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Um terço das causas de demência são evitáveis, aponta estimativa da revista ‘The Lancet’

24/07/2017

A renomada revista médica “The Lancet” recrutou duas dúzias de pesquisadores (de países como Reino Unido, EUA e Noruega) para formar uma força-tarefa e responder uma única questão: quantos casos de demência são evitáveis?

 

A resposta final, baseada em estimativas: 35% e mais de 40 páginas de outras considerações. Parece assustador saber que uma a cada três pessoas com demência poderia não estar doente. E igualmente terrível é o custo: se são gastos US$ 818 bilhões anualmente com a doença para tratar 47 milhões de pessoas. O estudo foi publicado nesta quinta (20).

 

E o problema vai aumentar (principalmente nos países mais pobres). Estima-se que em 2030 haverá 75 milhões de pessoas com demência no mundo, ao custo de mais de US$ 2 trilhões.

 

Na hipótese de não haver nenhuma grande inovação tecnológica que mude o paradigma atual, centenas de bilhões de dólares poderiam ser economizados anualmente só trabalhando com os casos evitáveis.

 

O estudo conseguiu elencar alguns “culpados” pelo atual panorama da demência. Pelo menos um deles aparece logo cedo na vida: a falta de educação formal na infância. Essa deficiência corresponde a oito pontos percentuais dos 35% em questão. Pode parecer estranho à primeira vista, mas uma mente alfabetizada e intelectualmente estimulada tem, sim, menor propensão à demência.

 

Na fase adulta aparecem outros fatores importantes: perda auditiva (nove pontos percentuais); hipertensão (dois pontos percentuais) e obesidade (um ponto percentual).

 

Mais adiante na vida chega a conta de outros hábitos: fumo (cinco pontos percentuais); depressão (quatro pontos percentuais); inatividade física (três pontos percentuais); isolamento social (dois pontos percentuais) e diabetes (um ponto percentual).


Figura, em inglês, sumarizando os fatores de risco para o desenvolvimento de demência. Crédito: Reprodução

 

Somando todos esses fatores, chegamos aos 35%. Sobra 65% para outros, sejam genéticos e ambientais. Um dos possíveis fatores genéticos é a mutação no gene da Apolipoproteína E (que, sozinha, responde por 7 pontos percentuais desses 65%); há mais de 30 outras regiões no genoma possivelmente associadas à doença.

 

Com a ideia de resumir a mensagem, os pesquisadores elaboraram uma lista com dez afirmações ou propostas para lidarmos melhor com as demências:

 

1. O número de pessoas com demência está crescendo globalmente, apesar de a incidência em alguns países ter caído

 

2. Devemos ser ambiciosos com relação à prevenção. É recomendável que haja tratamento ativo da hipertensão em pessoas entre 45 e 65 anos e também nos maiores de 65 que não têm demência a fim de reduzir a incidência dessas doenças. Outras atitudes são ampliar a oferta educacional na infância, de exercício físico, estimular a manutenção de laços e de atividades sociais, combater o fumo, prevenir e tratar a perda auditiva, a depressão, o diabetes e a obesidade.

 

3. Para maximizar a cognição, pessoas com doença de Alzheimer ou demência com corpos de Lewy devem ter acesso a remédios conhecidos como inibidores de colinesterase em todos os estágios. Essas drogas não funcionam no caso de comprometimento cognitivo leve.

 

4. Individualizar o cuidado do paciente com demência, tanto do ponto de vista médico quanto social. Deve haver um ajuste às necessidades individuais e culturais. Deve haver suporte para familiares que agem como cuidadores.

 

5. Os familiares que cuidam de pessoas com demência têm alto risco de depressão. Algumas estratégias podem reduzir essa probabilidade e os sintomas devem ser tratados.

 

6. Pessoas com demência e suas famílias valorizam discussões sobre o futuro e sobre quem será o responsável por tomar decisões legais. Profissionais de saúde devem ter capacidade de vislumbrar diferentes caminhos ao fazer o diagnóstico.

 

7. Pessoas com demência devem ser protegidas do risco de vulnerabilidade cognitiva, social, financeira, direção de veículos e do uso de armas, além do autonegligenciamento. Apesar disso, deve ser pesado o direito da pessoa a ter autonomia.

 

8. Cuidar dos sintomas neuropsiquiátricos da demência, incluindo agitação, anedonia e psicose tanto do ponto de vista social, psicológico e ambiental, mas também do farmacológico –importante no caso de sintomas mais severos.

 

9. Um terço das pessoas mais velhas morre com demência. Por isso, é essencial que profissionais trabalhando com cuidados paliativos tenham isso em mente –já que essas pessoas podem não conseguir fazer decisões e expressar os próprios desejos e necessidades.

 

10. Intervenções tecnológicas têm o potencial de melhorar o cuidado, mas não devem substituir o contato social.

 

“Apesar de a demência ser geralmente diagnosticada tardiamente, as alterações cerebrais geralmente têm início anos antes, com os fatores de risco para o desenvolvimento da doença surgindo no decorrer da vida, não só na idade avançada.

 

Nós acreditamos que uma abordagem mais ampla na prevenção da demência que reflita na mudança desses fatores de risco beneficiará nossas sociedades –que estão envelhecendo– a reduzir o crescente número de casos de demência ao redor do mundo”, diz Gill Livingston, professor na Universidade College London e primeiro autor do estudo.

 

"A demência seletivamente afeta os mais velhos e frágeis, as mulheres, e quem está em desvantagem socioeconômica e educacional. Ela cala as vozes das pessoas vivendo com essa condição, justamente quando elas mais precisariam ser ouvidas.” escreveu em um comentário, Martin Prince , professor do King’s College London.

 

Entre as limitações do estudo, elencam os autores, estão a ausência de um peso (em pontos percentuais) para a dieta e para o consumo de bebidas alcoólicas. Também há a possibilidade de educação continuada, ao longo da vida, ter impacto positivo –algo também não pôde ser contabilizado.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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