Há cinco décadas o Brasil vem realizando transplantes de órgãos com resultados positivos. O que pouca gente sabe é que existem outros tecidos que também podem ser doados. O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal responsável por transplante de ossos, ou como são conhecidos na medicina, os tecidos musculoesqueléticos.

Existem atualmente sete bancos de captação de tecidos musculoesqueléticos no Brasil. Nestes locais é possível receber doações humanas em bom estado, para que sejam encaminhadas para transplantes ortopédicos e odontológicos das equipes do Into, localizado na cidade do Rio de Janeiro (RJ). São ossos, tendões, cartilagens, meniscos e outros tecidos responsáveis pela sustentação e movimentação do corpo humano.

Em geral, o transplante de tecidos musculoesqueléticos para ortopedia consiste no tratamento para pacientes com câncer, que sofreram acidentes ou traumas esportivos e ainda problemas de malformação em crianças. “Diferente de um órgão, no caso do transplante de tecidos não se salva a vida do paciente. Mas geramos qualidade de vida e oportunidade de melhora física e emocional do indivíduo. Lógico que existem pacientes com necessidades mais urgentes e, por isso, há uma fila”, explica o médico diretor do Banco de Multitecidos do Into, Rafael Prinz.

As doações são feitas quando a família do doador autoriza o procedimento, após o diagnóstico de morte encefálica. A captação acontece em hospitais de todo o país que possuem a OPO- Organização de Procura de Tecidos / ou CIHDOTT – Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes.

“Infelizmente, ainda existe um certo preconceito sobre doação de órgãos e tecidos. Uma cultura que desejamos mudar, já que este gesto tão generoso pode trazer alívio e qualidade de vida para tantas pessoas”, afirma Rafael Prinz. Ele lembra ainda que um doador pode beneficiar cerca de 30 pessoas.

O material captado é passado por uma análise rigorosa. Doadores precisam ter idade entre 10 e 70 anos de idade, não podem ter sido vítimas de câncer ósseo, osteoporose ou doenças infecciosas transmitidas através do sangue (como hepatite, AIDS, malária). Também se aplicam restrições quanto ao uso prolongado de corticoides.

Papel da Enfermagem – O profissional de Enfermagem tem um papel importante em todo o processo da doação, por meio da coordenação logística e administrativa, organização, sistematização, translado e transplante. Mas é na captação do material, momento delicado para a família, que as habilidades técnicas e relacionais do enfermeiro fazem toda diferença, na identificação do potencial doador e na entrevista familiar.

“Há uma necessidade de novos cursos para a Enfermagem no setor de transplantes. O setor é amplo, envolve questões de segurança e tem abrangência nacional. A demanda por cursos de especialista em doação, transplante de órgãos e tecidos é alta.”, explica a enfermeira especialista em doação de órgãos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaboradora do Cofen, Batira Roza, que torce para a ampliação nos cursos e especializações na área.