A transmissão fecal-oral também pode ser um mecanismo de transmissão da Covid-19 (sigla do inglês, Coronavirus Disease 2019), segundo dois artigos publicados no periódico Gastroenterologia. Os pesquisadores acreditam que o RNA e as proteínas do SARS-CoV-2 (sigla do inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), o agente etiológico da Covid-19, são eliminados nas fezes no início da infecção e persistem após a resolução dos sintomas respiratórios.

Mas essa descoberta é preliminar. "Existem evidências de vírus nas fezes, mas não evidências de vírus infectantes", disse ao Medscape o Dr. David A. Johnson, médico, professor de medicina e chefe do Serviço de Gastroenterologia da Eastern Virginia School of Medicine, em Norfolk.

Os resultados não são totalmente inesperados. Os dois últimos coronavírus, da SARS e da MERS, são eliminados nas fezes disseram Dr. Jinyang Gu, médico da Faculdade de Medicina da Universidade Jiao Tong em Xangai, na China, e colaboradores, em um dos artigos publicados recentemente.

Além disso, à medida que a Covid-19 se alastrou para além da China, os médicos começaram a perceber leves sintomas gastrointestinais (GI) iniciais em alguns pacientes, como diarreia, náuseas, vômitos e dor abdominal, precedendo a febre, a tosse seca e a dispneia que são patognomônicas. O primeiro paciente diagnosticado nos Estados Unidos com Covid-19 informou ter tido dois dias de náuseas e vômitos, com detecção de RNA viral em amostras fecais e respiratórias, de acordo com um artigo anterior.

Dr. Jinyang e colaboradores alertaram que as pesquisas iniciais provavelmente não teriam considerado os casos que se manifestam inicialmente apenas com discretos sintomas gastrointestinais.

Embora relatos iniciais indiquem que apenas cerca de 10% das pessoas com Covid-19 têm sintomas GI, não se sabe se alguns infectados têm somente sintomas gastrointestinais, disse Dr. David.

A manifestações gastrointestinais são compatíveis com a distribuição dos receptores ACE2, que servem como pontos de entrada para o SARS-CoV-2, bem como para o SARS-CoV-1, o vírus que causa a SARS. Esses receptores são mais abundantes nas membranas celulares das células pulmonares AT2, bem como nos enterócitos do íleo e do cólon.

"Ao todo, muito esforço precisa ser feito para perceber os primeiros sintomas digestivos da Covid-19 de modo a possibilitar a detecção precoce, o diagnóstico precoce, o isolamento precoce e a intervenção precoce", concluíram Dr. Jinyang e colaboradores.