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USP desenvolve teste que identifica vírus da zika com maior precisão

17/10/2019

Um novo teste desenvolvido por pesquisadores da USP consegue identificar a infecção pelo vírus da zika com precisão sem precedentes, o que deve facilitar o trabalho de médicos e autoridades de saúde pública que ainda tentam entender os riscos trazidos pela doença.


“Até hoje, o maior problema para chegar a esse tipo de teste era a grande semelhança entre as proteínas do vírus da zika e as da dengue. Era muito difícil separar um do outro”, explica o virologista Edison Luiz Durigon, pesquisador do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da universidade) e um dos responsáveis pelo trabalho.


Para contornar o problema, a equipe conseguiu identificar um pedaço de uma das moléculas virais, a chamada NS1 (sigla de “proteína não estrutural 1”), que é suficientemente diferente de um vírus para o outro. Graças à escolha desse alvo, o teste tem tanto especificidade quanto sensibilidade de 92%. A especificidade de testes anteriores era de 75%.


Amostra de sangue contaminado pelo vírus da zika em laboratório do ICB-USP


Amostra de sangue contaminado pelo vírus da zika em laboratório do ICB-USP - Diego Padgurschi /Folhapress


Isso significa que o novo exame raramente produz falsos positivos (ou seja, não identifica a presença de outro vírus como sendo o da zika) e falsos negativos (isto é, não “deixa passar” o vírus da zika como se fosse outro causador de doenças). O trabalho levou ao depósito de uma patente (ou seja, uma invenção, com direitos de propriedade intelectual garantidos) e ao licenciamento do teste para produção comercial pela empresa AdvaGen Biotech, de Itu (SP). 


A comercialização dos kits com 96 testes cada um já foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os pesquisadores calculam que o custo por pessoa fique em torno de R$ 30, o que viabilizaria o uso em grande escala no SUS.


Para obter a aprovação, o teste foi validado com mais de 3.000 mulheres —elas, com efeito, são o principal “público-alvo” da tecnologia, já que os efeitos mais graves da zika registrados até agora são a microcefalia (tamanho da cabeça e do cérebro menor que o normal) e outras anomalias severas no sistema nervoso de recém-nascidos cujas mães foram infectadas pelo vírus. Tudo indica que o patógeno destrói as células que dão origem aos neurônios durante a gestação na mãe infectada, o que explica os problemas neurológicos nas crianças. “Se uma gestante chega a um pronto-socorro com sintomas que lembram os da zika e faz esse teste, um resultado negativo já seria suficiente para deixá-la mais despreocupada”, afirma Durigon.


Outra aplicação relevante da abordagem é no acompanhamento de populações como a do Nordeste, nas quais boa parte da população já foi infectada com um ou mesmo vários subtipos da dengue e que, portanto, oferece mais dificuldade na hora de determinar quem pegou zika pela primeira vez, já que os sintomas são bastante parecidos com os da dengue. “Para um trabalho como esse, não existe nada que seja comparável em outros lugares do mundo”, diz Luís Carlos de Souza Ferreira, diretor do ICB e membro da equipe de desenvolvimento do teste.


Assim como diversos outros testes do gênero, o sistema desenvolvido pelos pesquisadores depende de uma série de reações envolvendo anticorpos, moléculas produzidas pelo organismo como arma contra invasores. Em pequenas cavidades de uma placa fica o fragmento de molécula específico do zika. Em seguida, os pesquisadores colocam amostras sanguíneas do paciente. Caso a pessoa tenha tido contato com o vírus zika, seu organismo terá produzido anticorpos contra ele, e esses anticorpos vão se ligar ao pedaço de molécula do vírus de modo específico.


No passo seguinte, a placa recebe anticorpos contra o primeiro anticorpo —sim, é estranho, mas isso existe. O importante nesse caso é que o segundo anticorpo se liga de forma específica ao primeiro, e a ele está acoplado uma enzima —grosso modo, uma tesoura molecular. Finalmente, acrescenta-se uma última molécula, projetada para ser cortada pela enzima. Nessa reação, o conjunto muda de cor —caso, é claro, haja anticorpos contra o vírus no sangue. 


Se esses anticorpos não estiverem ali, as várias lavagens da placa vão carregar todas as moléculas embora. O processo todo dura dez ou quinze minutos e pode ser totalmente automatizado. A tendência é que os especialistas passem a entender melhor a dinâmica de espalhamento da zika entre a população. Há boas pistas de que a primeira onda da doença no país infectou milhões de pessoas, em tese deixando-as imunes à doença. “Isso pode inclusive ajudar a decidir se vale a pena investir numa vacina”, diz Durigon. A pesquisa contou com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).


ENTENDA O VÍRUS


O que é o vírus da zika


Ele é um arbovírus (vírus transmitido por picadas de insetos). A doença tem risco superior ao de outras arboviroses, como dengue, febre amarela e chikungunya, para o desenvolvimento de complicações neurológicas (como a microcefalia), síndrome de Guillain Barré e outras doenças neurológicas


Sintomas


A infecção por zika na maioria dos casos é branda e tem cura espontânea depois de 10 dias. A doença inicia com manchas vermelhas em todo o corpo e olho vermelho e pode causar febre baixa, dores pelo corpo e nas juntas. As principais complicações são neurológicas


Transmissão


Pode ser pela picada do mosquito Aedes Aegypti, por via sexual ou de mãe para o feto durante a gravidez


Diagnóstico


Hoje, o diagnóstico do zika é clínico e feito por um médico. O resultado é confirmado por meio de exames laboratoriais de sorologia e de biologia molecular ou com o teste rápido, usado para triagem. A sorologia é feita pela técnica MAC ELISA, por PCR e teste rápido. Todos os exames estão disponíveis no SUS


10 mil


Casos de zika em 2019 já foram registrados pelo Ministério da Saúde. O número provavelmente é subestimado, já que os sintomas são parecidos com os da dengue e os testes moleculares são incertos.


214 mil


Casos de zika foram registrados em 2016, auge da epidemia no Brasil


70%


Dos moradores de um bairro de Salvador (BA) foram infectadas, segundo um estudo. Se essa proporção for representativa para o Nordeste, seriam dezenas de milhões de casos



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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