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Pesquisa que liga micróbios a tumor de intestino leva prêmio de oncologia

06/08/2019

Um estudo que aponta como a análise da microbiota (conjunto de micro-organismos) intestinal pode predizer a ocorrência de câncer colorretal venceu a categoria Pesquisa em Oncologia do 10º Prêmio Octavio Frias de Oliveira. Já a criação de uma droga contra a leucemia a partir de levedura de panificação ganhou na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia.

 

Os nomes dos vencedores foram revelados em cerimônia de entrega na noite de segunda-feira (5) no teatro da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo. médico e escritor Drauzio Varella foi o vencedor na categoria Personalidade de Destaque por sua trajetória e contribuição à oncologia. 

 

A premiação é uma iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea, que leva o nome do então publisher da Folha, morto em 2007, busca reconhecer e estimular contribuições na área oncológica.

 

Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, ressaltou as semelhanças que existem entre os valores cultivados pelo jornal e pelo Icesp e que também se refletem na láurea: a promoção do conhecimento, a investigação da verdade dos fatos, o combate aos obscurantismos e o incentivo ao debate amplo e substancioso.

 

“Todos esses foram valores cultivados pelo seu Frias, Octavio Frias de Oliveira, e por Otavio Frias Filho [que dirigiu a Redação da Folha de 1984 até sua morte, em 2018]. São compromissos perenes, públicos do jornal”, disse.

 

Para cada categoria, a premiação é de R$ 20 mil. Os vencedores são apontados por uma comissão composta por representantes do Icesp, da Faculdade de Medicina da USP, do HC da USP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Ciências, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Oncocentro de São Paulo e da Folha.

 

O estudo vencedor na categoria Pesquisa em Oncologia é da autoria de Andrew Maltez Thomas, que hoje faz pós-doutorado na Universidade de Trento, na Itália, e colegas. 

 

O grupo de cientistas analisou 969 amostras fecais de bancos de dados internacionais, tanto de pessoas saudáveis quanto de indivíduos com câncer. Com essa informação em mãos, desenvolveram modelos —alimentando computadores com grandes bases de dados para que eles encontrassem padrões — que buscavam diferenciar as amostras normais das que tinham a doença.

 

No fim, os autores descobriram que a presença de 16 bactérias na microbiota intestinal pode indicar a existência de câncer colorretal em estágio inicial. Também puderam detectar a doença em diferentes populações, com dietas e estilos de vida distintos. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Medicine.

 

Segundo Thomas, o modelo desenvolvido por sua equipe não deve substituir formas atuais de diagnóstico, mas, sim, ser um aliado ao exame de sangue oculto nas fezes. Testada dessa forma no estudo, a técnica aumentou a detecção de câncer.

 

"O teste de sangue oculto diz que tem algo errado com seu trato gastrointestinal, mas nem sempre se sabe o que é. Já a assinatura do microbioma é específica para câncer colorretal. A união dos dois pode reduzir as colonoscopias desnecessárias, que são caras, invasivas e têm riscos", diz ele.

 

Formado em biologia na Universidade Mackenzie, Thomas fez mestrado no A.C. Camargo Cancer Center sob a supervisão de Emmanuel Dias-Neto, que também assina a pesquisa vencedora, e doutorado em bioinformática na USP.

 

O trabalho vencedor na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, de autoria de Luciana Facchinetti de Castro Girão, do Departamento de Bioquímica da UFRJ, tinha como alvo a criação de uma nova versão da enzima asparaginase que cause menos efeitos colaterais graves.

 

A enzima asparaginase, que é produzida por uma bactéria, é o principal medicamento para a leucemia linfoide aguda, que afeta principalmente crianças. Embora seja eficaz, o remédio pode causar forte reação imunológica, que dificulta ou até impede seu uso.

 

A parceria entre a UFRJ, a Fiocruz e a Universidade de Lisboa obteve a asparaginase a partir da levedura de panificação --em combinação com outras substâncias, a enzima ajudou a impedir que o organismo reconheça o medicamento como um corpo estranho, reduzindo assim as reações adversas graves. "Criamos uma barreira que faz com que o sistema imune não reconheça ou reconheça menos a droga como um corpo estranho, e essas alergias diminuem ou até somem. Com isso, mais pacientes podem ser tratados", diz Girão.

 

A droga foi testada em células leucêmicas. O grupo agora busca uma parceria público-privada para avançar à próxima fase e testar a formulação em animais. Girão afirma que os testes são caros, e os recursos para a ciência minguaram nos últimos anos. Neste ano, seu projeto ficou sem verba. A cerimônia no teatro da Faculdade de Medicina foi conduzida pelo ator Odilon Wagner e estiveram presentes autoridades médicas e científicas.

 

Roger Chammas, que comandou da comissão julgadora do prêmio, ressaltou a importância da existência de tentativas de baratear o tratamento do câncer. Um dos trabalhos finalistas, do pesquisador Carlos Wagner de Souza Wanderley, do Crid (Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP),  descobriu efeitos ainda desconhecidos de uma droga barata e já disponível no SUS, e que é usada contra o câncer, o paclitaxel. Além de destruir a célula cancerosa, a droga pode ativar o sistema imunológico. “É possível reposicionar, dar um outro propósito para uma droga já em uso. Pode haver um impacto social fabuloso, como no câncer de mama”, diz Chammas.

 

"O câncer é hoje a doença de maior incidência no mundo, a que mais cresce e a que mais mata. A valorização daqueles que se dedicam ao estudo do câncer é muito importante", disse Marco Antônio Zago, presidente da Fapesp.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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