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Pacientes curados do coronavírus relatam tensão e dor: 'Achei que fosse morrer'

08/04/2020

 

 

De uma forma ou de outra, todo mundo vai ter contato com o esse inimigo invisível, o novo coronavírus. Ele se espalhou pelos quatro cantos do planeta e provocou uma pandemia. Para muita gente, ele poderá passar rápido, provocando sintomas leves, situação que pode ser resolvida com tratamento caseiro. Mas, para cerca de 20% da população, a doença é motivo de internação hospitalar e até de uso de respiradores, hoje o equipamento mais escasso e que pode ser o fiel da balança da sobrevivência.

 

O Estado conversou com pessoas que foram diagnosticadas com o novo vírus e estão curadas ou em fase final do tratamento para a covid-19. Entre os entrevistados estão aqueles que ficaram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), como o jurista Ives Gandra Martins, de 85 anos, que, pela idade, pertence ao grupo de risco da covid-19.

 

Também fazem parte do grupo de risco para o novo coronavírus pessoas com comorbidades, como complicações cardíacas, doenças pulmonares e renais. O vírus, no entanto, atinge a todos: pegou em cheio o prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, Orlando Morando (PSDB), de 45 anos, com a saúde em dia. “Senti uma falta de ar asfixiante”, disse Morando ao Estado.

 

No grupo dos que fizeram tratamento em casa e não precisaram de internação estão a jornalista Monique Arruda, de 34 anos, e a técnica de enfermagem, Natália Leite, de 35 anos. Também se recuperou em casa o médico infectologista David Uip, que lidera o comitê de combate à doença em São Paulo. Uip participou na segunda-feira de uma entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes sobre o avanço da covid-19 no Estado, após ficar vários dias afastado, em isolamento domiciliar, durante o tratamento para a doença.

 

Seja em casa ou no leito de uma UTI, o medo de morrer foi o traço comum dos depoimentos desses brasileiros que agora – ao que tudo indica – já estão imunizados contra o novo coronavírus. Para eles, a lição que ficou é de que a vida é muito frágil e a saída para superar esse momento é ouvir a ciência e ser solidário. Veja abaixo os depoimentos:

 

"Senti uma falta de ar asfixiante"

 

Depois de uma semana na UTI, Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo (PSDB), no ABC paulista, disse que achou que morreria por causa da covid-19. O pior momento foi na semana passada. “Senti uma falta de ar asfixiante, foi a pior sensação que tive na vida.” A situação só começou a reverter quando os médicos começaram a dar cloroquina. “O oxigênio não surtia efeito”, lembra o político de 45 anos, que tem boa saúde e não faz parte de grupo de risco.

 

A lição que fica, segundo ele, é que é preciso valorizar a vida. “Esse é o maior bem que a gente tem. Quando se está à beira do precipício não adianta mais.” Outra lição tirada dessa experiência é a necessidade de as pessoas serem mais humanas. Morando disse que tem acompanhado as discussões recentes e que, na sua opinião, elas são totalmente “ilógicas”. “O que adianta discutir a economia para quem não tem mais saúde?”

 

“A ciência está mostrando que o isolamento é a chance que temos para proteger as pessoas”, frisou. Depois do que ele passou, Morando disse que gostaria de ver se alguém consegue ficar alguns segundos sem respirar tentando contar dinheiro.

 

"Dói os pulmões, achei que eu fosse morrer"

 

No dia 25 de março, a técnica de enfermagem Natália Leite, de 35 anos, começou a ter sintomas de uma gripe normal: tosse, espirros e nariz escorrendo. Foi a uma UPA e o médico a diagnosticou com gripe, H1N1. Natália, que trabalha em um hospital público, foi afastada do serviço e começou o tratamento em casa.

 

Com o passar dos dias, o quadro piorou: veio a febre alta, que chegava a 40 graus, perda de paladar, olfato e dor nos pulmões, como se tivessem sendo esmagados. Ela voltou ao médico, fez o teste e confirmou que estava com a covid-19. “O sintoma é de uma gripona: quando tosse, dói os pulmões, achei que fosse morrer”, contou.

 

No começo, ela não acreditou que estivesse com a doença, pois tomava todos os cuidados de higiene e no hospital onde trabalha cuida de uma ala isolada, onde estão pacientes sem relação com a pandemia. Depois do diagnóstico, o médico recomendou que continuasse o tratamento em casa e só fosse ao hospital se tivesse falta de ar. Natália mandou o filho menor, de 4 anos, para a casa do pai, e ficou na companhia do filho maior, de 14. “No dia 9 vou refazer o teste para ver se o vírus foi embora.”

 

"Minha guerra não começou com o coronavírus"

 

No dia 27 de fevereiro, o jurista Ives Gandra Martins foi submetido a uma cirurgia simples de esôfago. Na recuperação teve uma isquemia, depois uma septicemia. Ficou quatro dias em coma na UTI e, quando estava se recuperando pegou o novo coronavírus. “A minha guerra não começou com o coronavírus”, disse o jurista, que agora já está em casa, mas ainda em recuperação. “Sinto fraqueza e falta de apetite. Mas, fora isso, estou bem. Estou escrevendo: coronavírus não atingiu o cérebro”, brincou.

 

Após 38 dias de hospital, ele mantém o raciocínio perspicaz. “Os médicos foram muito bons, mas acredito mais no médico lá de cima”, disse o jurista, que é católico, acredita em Deus e no poder das orações. Aos 85 anos e, portanto, pertencendo ao grupo de risco, Gandra relatou que nunca tinha vivido um drama pessoal tão grande. Apesar da fase difícil, ele se considera otimista. Acredita que, do ponto de vista coletivo, a pandemia do novo coronavírus vai ser um momento de reflexão da humanidade. “Essa é uma guerra mundial contra um inimigo invisível e, com solidariedade, será uma grande oportunidade para mudarmos a face da terra.”

 

"Fiquei sem olfato por 12 dias"

 

Há 17 dias trancada em casa, Monique Arruda, de 34 anos, jornalista, não precisou ir para o hospital para se curar da covid-19. No primeiro dia, ela contou que teve muita dor de cabeça, cansaço e febre alta. “Fiquei sem olfato durante 12 dias, era como se não tivesse nariz”, lembrou. Ela recebeu orientação do médico via aplicativos, o laboratório fez o teste em casa e o resultado foi positivo. Já o seu filho de 3 anos teve muita falta de ar, mas o teste deu negativo. Até mesmo no período de isolamento, o médico a autorizou a amamentar para atenuar os sintomas da criança. Ela usou máscara e tomou cuidado com a higienização das mãos. 

 

Outra preocupação de Monique é com a mãe idosa, de 70 anos, que mora na mesma casa. Mas, segundo ela, a mãe não pegou a doença, apesar de ser fumante e fazer parte do grupo de risco. “Apesar de os meus sintomas terem sido leves, foi um pesadelo”, resumiu a jornalista. Ser portadora do vírus soou como uma sentença de morte para ela. No seu caso, um dos pontos que ajudaram, na sua opinião, a não virar um caso grave foi seu estilo de vida saudável. “Alimentação é a base de tudo.”

 

"Se as pessoas tivessem noção, não sairiam de casa de jeito nenhum"

 

Depois de 19 dias internado, dos quais 11 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Samaritano, em São Paulo, o relações públicas Ireno Marcio Silva, de 41 anos, está vendo a sua vida voltar ao normal. Ele saiu do hospital na última sexta-feira (03/04), 12 quilos mais magro e com uma história de desespero e aflição para contar.

 

"Se as pessoas tivessem a noção do que é essa doença, não sairiam de casa de jeito nenhum”, alertou Silva. Ele começou a sentir os primeiro sintomas no dia 5 de março: perda de olfato e de paladar. “Achei estranho”, relatou. Depois veio uma leve dor nas costas, que ele achava que era por conta do ritmo intenso de trabalho. No terceiro dia, veio uma febre moderada, intercalada de ondas de frio, lembrando uma gripe, mas no fundo muito diferente.

 

Uma semana depois, ele procurou o médico no Hospital Nove de Julho, que o diagnosticou com uma pneumonia viral e prescreveu uma medicação para gripe H1N1. Após três dias tomando o remédio em casa e com os sintomas persistindo, decidiu ir ao outro hospital e foi internado imediatamente. Fez o teste para coronavírus, que deu positivo. Com muita falta de ar, três dias depois de internado foi parar na  UTI. Aí começou o sofrimento maior: ser entubado, amarrado, todas aquelas coisas de UTI, que são horríveis, relatou o relações públicas. “Cheguei a pedir para os enfermeiros e médicos que não fizessem mais nada, que me deixassem morrer.”

 

Silva não fazia parte do grupo de risco, não tinha doenças pré-existentes, fazia ginástica regularmente. Ele lembra que a doença pode vir de forma leve, mediana. “Mas também pode vir como veio para mim. Só não fui porque Deus teve misericórdia e a hospital era de primeira.”

 

“Não fui entubado, passei pela tangente”

 

Ainda prisioneiro dentro de um quarto em sua própria casa, o engenheiro aeronáutico Eric Consoli, de 41 anos,  casado e pai de duas filhas, se recupera do novo coronavírus. Ela saiu do hospital em Ribeirão Preto (SP), cidade onde mora, na quinta-feira, dia 2 de abril, depois de ter ficado oito dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). ”Comparando com a UTI e o quarto hospital, pelo menos aqui em casa eu tenho as minhas duas filhas, ouço elas brincarem e brigarem também.”

 

Por recomendação médica, o engenheiro terá de cumprir um período de isolamento de 21 dias, mesmo tendo tido alta do hospital. Quando começou a ter os primeiros sintomas da doença, febre e moleza no corpo, no dia 17 de março, ele se isolou por conta própria e buscou ajuda médica remota pelo plano de saúde. O médico disse que iria tratá-lo como se fosse uma gripe, já que ele não tinha falta de ar nem tosse seca.  Mas alertou que ele deveria ir para o hospital se tivesse esses sintomas.

 

Quando a tosse apareceu, Consoli foi para o hospital. Chegando lá, fez exames e foi direto para a UTI. “Na hora que cheguei na UTI, com a respiração difícil, o pessoal tirou o meu sangue e eu vi que ele estava muito mais escuro do que o normal, achei que fosse morrer”, disse. Para completar, o médico avisou que ele seria entubado, se não melhorasse em 24 horas. “Não fui entubado, passei pela tangente”, disse o engenheiro, que recebeu oxigênio por meio de um cateter diretamente no nariz. Num primeiro momento, Consoli  achou que era uma “gripezinha”. “Mas quando o negócio pega mesmo, pelo amor de Deus.”

 

O alerta que ele faz é que quem acha que está com os sintomas, não deve apostar. “Longe de mim de ter apostado e olha o que aconteceu?”, disse Consoli. "Se tivesse sido teimoso e resistido em ir para o hospital, talvez não tivesse sobrevivido", concluiu.



Fonte: O Estado de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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