São Paulo, 29 de março de 2024
Home / Entrevistas

Entrevistas

Higiene Hospitalar

Silvana Torres
Enfermeira especialista em Controle de Infecção e Administração Hospitalar, Diretora da ATE Ass.
[email protected]

06/12/2010

Boas práticas em higiene hospitalar e técnicas corretas de limpeza fazem parte dos princípios de qualquer instituição de saúde para se evitar contaminações e a disseminação de infecções, já que um hospital concentra inúmeros microorganismos, bactérias e vírus nocivos á saúde dos pacientes e também dos trabalhadores.

 

Qualificar a equipe profissional que atua nas áreas aonde a higienização faz-se necessária em período integral é um dos pilares para um atendimento de qualidade, proporcionando segurança, conforto e bem-estar ao paciente e aos colaboradores da instituição.

 

A enfermagem é parte integrante deste processo e em muitas instituições ela é a responsável pelo setor de Higienização, estando à frente na tomada de decisões.

 

O assunto é bem amplo e para abordá-lo o Portal convidou a enfermeira Silvana Torres, especialista em Controle de Infecção e Administração Hospitalar, Diretora da ATE – Assessoria e Treinamento em Enfermagem. Suas explicações são válidas para quem atua no setor ou pretende fazer parte desta tão importante área do cuidar.

 

 

Quais as finalidades do serviço de Higiene Hospitalar?

Através da higienização, proporciona-se aos clientes internos e externos um ambiente limpo e esteticamente organizado, livre de mau odor, visando conforto, segurança e bem estar.

A utilização de boas práticas durante a execução dos processos de limpeza, além de eliminar a sujidade visível e reduzir a carga contaminante das superfícies, evita a disseminação de microrganismos através da adoção de medidas de controle, preserva a saúde ocupacional e o meio ambiente.

 

Quais são os tipos de limpeza?

Há três tipos de limpezas: concorrente, terminal e de manutenção.

A limpeza concorrente é aquela realizada enquanto o paciente encontra-se no apartamento, nas dependências da instituição de saúde. O funcionário retira o lixo e os resíduos depositando-os em sacos plásticos, recolhe a roupa suja para encaminhar à lavanderia e recolhe outros materiais, como jornais e revistas, por exemplo.

A limpeza terminal é realizada após a saída do paciente, seja por alta, óbito ou transferência. Este ato compreende a limpeza de superfícies, sejam elas verticais ou horizontais, e a desinfecção do mobiliário. E temos a limpeza de manutenção, que têm como objetivo, manter o padrão da limpeza das dependências, nos intervalos entre as limpezas concorrentes ou terminais. Neste caso, deve-se estar atento à reposição de materiais de higiene, recolhimento de resíduos, manutenção das superfícies limpas e secas etc.

 

Como são classificadas as áreas de serviços de saúde?

As áreas são classificadas de acordo com o risco potencial de transmissão de infecções:

- Áreas críticas: são aquelas onde existe um risco aumentado de infecções, onde se realizam muitos procedimentos de risco. Ex: OS, UTI, CC, CO, locais onde se encontram pacientes imunocomprometidos etc.

- Áreas semicríticas: ocupadas por pacientes com moléstias infecciosas de baixa transmissibilidade e doenças não infecciosas, ambulatórios, quartos ou enfermarias de pacientes etc.

- Áreas não críticas: áreas não ocupadas por pacientes e onde não se realizam procedimentos de risco. Ex. áreas administrativas

 

De quem é a tomada de decisão quanto à limpeza terminal?

É de particular importância para o Serviço de Higiene a implantação de um programa institucional de Gerenciamento de Leitos e Vagas.

O programa requer o envolvimento de vários serviços e a geração de indicadores para seu bom funcionamento, tais como:

* Tempo para orientações pós-alta;

* Tempo de espera do acompanhante;

* Tempo para controle e entrega de pertences dos pacientes com alta;

* Tempo de recolhimento de todos os materiais e equipamentos relativos à assistência pela enfermagem;

* Tempo para serviços de manutenção antes da liberação do quarto;

* Tempo efetivo de liberação do quarto para limpeza terminal (desde o momento da alta até sua saída);

* Tempo para check list pós-limpeza terminal;

* Tempo para check list dos materiais e equipamentos do quarto (mobiliário etc.).

Após a análise dos indicadores por diferentes equipes - de higiene, manutenção, enfermagem e demais envolvidas -, é possível chegar a um denominador comum, ou seja, estabelecer metas para tempo mínimo para realização de cada uma destas atividades, inclusive a limpeza terminal.

Portanto, a enfermagem até pode liberar o quarto, entretanto, pode não estar liberado para o Gerenciamento de Leitos, que por sua vez, dependerá de muitos outros serviços. Neste caso a análise dos indicadores definirá a meta de tempo para cada serviço.

 

Em muitas instituições, o líder da equipe do setor de Higienização é o enfermeiro. Qual a sua opinião sobre essa questão?

Na maioria das vezes, a performance do enfermeiro frente a este serviço é altamente positiva. Quando o serviço de Higienização é liderado por profissionais de outras áreas, frequentemente os processos e tomadas de decisão são mais lentos, pois dependem muito de pareceres da enfermagem: gestores, enfermeiros, epidemiologistas etc.

Quando a liderança do serviço é representada por um enfermeiro, temos agilidade de acordos, realização de protocolos, parcerias e principalmente maior fluidez na comunicação multidisciplinar, pois o conhecimento técnico necessário para este serviço é inerente à sua profissão.

 

Como a enfermagem pode contribuir no processo de Higienização do ambiente?

Fazendo o que lhe compete, como, por exemplo:

* Após a saída do paciente (alta, óbito ou transferência) recolher materiais provenientes da assistência: bombas de infusão, equipos, soros, pérfurocortantes, comadres, roupas etc.;

E uma observação: a equipe de higienização só deve iniciar a limpeza terminal após a retirada destes materiais, ou seja, quanto mais a enfermagem demorar, maior tempo para liberação do quarto;

* Recolher os perfurocortantes de locais inadequados (piso, bancadas, leitos etc.);

* Fechar coletores de perfuro cortantes;

* Realizando a limpeza do leito enquanto o paciente está internado. Lembrando que não compete ao funcionário da higiene higienizar o leito ocupado, pois representa risco à segurança do paciente;

* Realizar a limpeza de materiais e equipamentos relacionados à assistência: equipamentos de RX, bombas de infusão, equipamentos utilizados para monitoramento dos pacientes etc.

 

 

“Quando a liderança do serviço é representada por um enfermeiro, temos agilidade, parcerias e principalmente maior fluidez na comunicação multidisciplinar”

 

 

 

Como é realizado o Dimensionamento de Pessoal para esta área?

Não existe fórmula, cada serviço deve verificar a média do tempo que seus funcionários levam para realizar a limpeza dos diferentes ambientes.

Não é possível estipular um tempo que sirva para todos os serviços de saúde, pois se deve levar em conta:

* Tipo de piso e demais revestimentos

* Áreas livres e fechadas

* Tipo de hospital: ex. geral ou de especialidade

* Tipos de equipamentos: ex. modernos ou obsoletos; industriais ou domésticos

* Localização do hospital: ex. área urbana ou rural etc.

 

Como deve ser o perfil e quais competências que a senhora considera importantes para atuar na área de Higienização?

Para o quadro operacional é fundamental as seguintes características:

- pró-atividade,

- facilidade de trabalho em equipe,

- organização,

- comprometimento,

- vontade de aprender

e que o colaborador saiba ler e escrever.

Principais atribuições: realização de limpeza de superfícies fixas; desinfecção de superfícies com presença de matéria orgânica; recolhimento e transporte dos resíduos.

 

E especificamente para liderar a equipe?

Além de liderança, flexibilidade, bom relacionamento, ética e imparcialidade, a tendência do perfil acadêmico é de um profissional com formação universitária com diferencial técnico.

 

Os protocolos desenvolvidos em busca da padronização das ações de higiene devem ser validados pelo SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar)?

Sim, o SCIH deve validar tanto os protocolos relacionados aos processos de limpeza, como os produtos utilizados.

 

No que o processo de Acreditação contribui com a área de higienização e limpeza?

Em vários aspectos: na valorização e conquista da excelência do serviço, na padronização de técnicas e utilização de produtos, na valorização da saúde ocupacional e do meio ambiente, no entrosamento com demais equipes institucionais etc.

 

Aonde o profissional pode buscar normatizações e/ou legislações que regulamentam o tema e os produtos a serem utilizados?

Todas as legislações, incluindo as atuais, encontram-se no recém lançado Manual da Anvisa: “Segurança do Paciente: Limpeza e Desinfecção de Superfícies – 2010”, que pode ser acessado pelo site da Anvisa ou por meio do link  Manual Anvisa

 

Na sua vivência como Consultora, quais são os principais erros observados no cotidiano das instituições de saúde?

* Despreparo do líder do serviço: desconhecimento das boas práticas em serviços de saúde; falta de conscientização quanto aos riscos etc.

* Ausência de protocolo para os processos de limpeza, ocasionando falta de uniformidade na execução das técnicas e muitos erros

* Equipamentos inadequados e mal dimensionados

* Utilização inadequada do EPIs

* Desconhecimento das precauções padrão e de isolamentos

* Limpeza visual com padrão insatisfatório

* Abuso de saneantes

* Falta de monitoramento da limpeza realizada

 

Acidentes com perfuro cortantes são um dos principais problemas dos trabalhadores na área de higiene. Quais dicas a senhora pode ressaltar para minimizar esta questão.

O primeiro passo é implementar a NR 32. Apesar de todos os prazos já esgotados, encontramos instituições que ainda não se organizaram para seu cumprimento.

Apenas esta legislação, se cumprida na íntegra, contribuirá expressivamente para a redução destes acidentes.

Tudo deve começar com a capacitação e a equipe multidisciplinar terá um papel fundamental nos resultados.

Nem sempre quem está na liderança do serviço tem condições de capacitar com relação aos riscos. Neste caso, a participação do SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar), do SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho) e um representante do programa de Gerenciamento de riscos, garantirão o êxito desta capacitação.

Algumas dicas para a equipe de higienização e liderança:

* NUNCA recolher PC (perfurocortante) de locais inadequados

* NUNCA fechar coletores de PC

* Segurar coletores de PC pelas alças

* Não utilizar pano de chão para limpeza do piso (o ato de torcer o pano pode levar ao acidente)

* NUNCA encostar o saco de resíduos no corpo

* Segurar o saco de resíduos pelas bordas etc.

 

Existem novidades em relação a materiais e equipamentos?

Sim, os antigos mops cabeleiras acompanhados de dois baldes e prensa estão sendo substituídos gradualmente por mops planos, que dispensam estes acessórios, tornando as operações de limpeza mais rápidas, seguras, ergonômicas e ecológicas, já que alguns produtos dispensam enxágüe.

 

Em relação ao controle de custos desse processo, quais os prontos que a senhora destacaria?

Os equipamentos de maior tecnologia geralmente têm um custo maior, mas se o custo-benefício for avaliado, acaba compensando, já que se economiza tempo, movimento e energia.

Este é um ponto crucial, já que cada vez mais os serviços de saúde estão cobrando a liberação de um leito em menor tempo. É preciso lembrar alguns gestores que não existe milagre, pois os funcionários não são robôs. Se querem agilidade, é preciso investir e capacitar.

Se não houver investimento, os funcionários fingem que limpam e os administradores fingem que acreditam!

 

 

“É preciso lembrar alguns gestores que não existe milagre, pois os funcionários não são robôs. Se querem agilidade, é preciso investir e capacitar”

 

 

A senhora está na 3ª edição do seu livro. Fale um pouquinho sobre esta obra e como nosso internauta pode adquiri-la?

O livro “Gestão dos Serviços Limpeza, Higiene e Lavanderia em Estabelecimentos de Saúde“, da Editora Savier, como o próprio nome já explica, aborda dois assuntos: Limpeza e Lavanderia em serviços de saúde. São basicamente dois livros em um, com ambas as partes bastante definidas e distintas. Sou responsável pela parte referente à Limpeza e a outra autora, Teresinha Covas Lisboa, responsável por Lavanderia.

Em breve estaremos lançando a 4ª edição.

O livro pode ser adquirido na internet em vários sites de comparação de produtos e pesquisa de preços, além de livrarias virtuais (alguns não cobram frete) e na própria editora.

 

Fale um pouco sobre os cursos ministrados pela senhora por todo o país.

No final de novembro eu ministrei um curso presencial na Abralimp – Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional, mas constantemente ministro cursos presenciais e também à distância. Em meu site é possível o internauta saber a agenda, com datas e locais e o enfoque dos cursos www.enfsilvanatorres.com.br .