São Paulo, 25 de abril de 2024
Home / Notícias / Estímulo na medula espinhal melhora parkinson

Notícias

Estímulo na medula espinhal melhora parkinson

31/10/2014

 

Cientista Miguel Nicolelis usou, em saguis, aparelho similar ao empregado contra dor crônica

 

A estimulação elétrica da medula espinhal de saguis, realizada por meio de um implante sob a pele nas costas, reverteu sintomas motores equivalentes aos de mal de Parkinson, segundo estudo liderado pelo neurocientista Miguel Nicolelis e que está na edição desta quinta (30) da revista "Neuron".

 

Em 2009, o grupo liderado por ele já havia divulgado resultados da técnica para parkinson, mas em roedores. Na época, o cientista esperava fazer testes em humanos já em 2010. Mas, agora, a pesquisa foi feita com saguis.

 

Nicolelis afirmou que o aparelho usado nos primatas em Macaíba (RN), no Instituto Internacional de Neurociências, é similar aos implantados hoje em pacientes com dores crônicas. Segundo ele, a doença de Parkinson pode ser comparada a uma crise epilética. "Ela gera uma sincronia patológica de um grande número de neurônios. Quando mandamos corrente elétrica pela medula, eles deixam de disparar todos juntos e a crise é desorganizada'." 

 

O estudo observou melhora de sintomas como rigidez, movimentos repetidos e falta de coordenação motora nos saguis. Uma pesquisa com humanos já está em curso no Hospital das Clínicas de São Paulo. O neurologista Manoel Jacobsen, do Grupo da Dor do HC, afirma que dez pacientes que têm dor crônica e parkinson receberam o implante de um aparelho de neuromodulação. Os primeiros resultados devem ser obtidos no ano que vem.

 

Hoje, além de medicamentos, os doentes com parkinson podem receber estimulação cerebral profunda, uma técnica que implanta eletrodos no cérebro. A estimulação da medula é menos invasiva do que a cerebral e não requer internação. Este é o primeiro artigo publicado por Nicolelis desde a demonstração de seu exoesqueleto robótico na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, em junho deste ano.

 

Esperava-se, com base nas declarações do cientista, que um jovem paraplégico se levantaria, andaria e chutaria uma bola de futebol usando a veste robótica controlada por seus pensamentos. No entanto, a demonstração teve só três segundos de transmissão pela TV e mostrou o atleta Juliano Pinto, 29, amparado por duas pessoas, tocar a bola com o pé direito.

 

"A Fifa havia nos prometido 29 segundos", diz Nicolelis. Apesar do problema e das críticas recebidas pela apresentação, ele diz que a repercussão internacional da demonstração na comunidade científica tem sido boa.