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Nova droga reverte perda de cabelo causada por doença autoimune

18/08/2014

A primeira coisa que Brian H. notou foi o crescimento de sua barba. Fazia anos que deixar a barba crescer era algo impossível, anos sofrendo a queda de cabelo de sua cabeça, do rosto, dos braços e das pernas.

 

Brian, 34, que prefere não revelar o sobrenome, tem alopecia areata, uma doença autoimune que atinge 1% dos homens e das mulheres e causa a queda dos pelos do corpo todo. O aparecimento de regiões carecas o aflige desde os 20 anos, custando empregos e relacionamentos.

 

Depois de tentar vários tratamentos, Brian se inscreveu numa pesquisa no Centro Médico da Universidade Columbia, nos EUA, que testava se um remédio aprovado para tratamento de um problema na medula óssea poderia ajudar pessoas com esse tipo de alopecia. Angela Christiano, uma das líderes do estudo, é professora de dermatologia e sofre de alopecia areata.

 

Depois de dois testes bem-sucedidos em camundongos de uma classe de drogas que suprimem o sistema imunológico bloqueando a ação de certas enzimas, um dos medicamentos, o ruxolitinibe, foi testado em sete mulheres e cinco homens. Parte dos achados foi publicada no domingo (17) na revista "Nature Medicine". Os resultados para Brian e vários dos outros participantes foram significativos.

 

"Bem rápido, já havia sinais", disse Brian. Então "três ou quatro regiões grandes começaram a ter crescimento de cabelo". Em cinco meses, ele tinha bastante cabelo na cabeça, nos braços e até nas costas.

 

A alopecia areata se diferencia de outros tipos de perda de cabelo, como a que costuma atingir os homens, e não há evidência de que esse remédio vá funcionar para essas formas mais comuns de calvície. Mesmo no caso da alopecia areata, ainda é cedo para saber se o tratamento vai funcionar para a maioria e se há efeitos colaterais importantes.

 

A pesquisa ainda está em andamento. Até agora, alguns pacientes não conseguiram recuperar o cabelo, segundo Julian Mackay-Wiggan, diretora de pesquisa em dermatologia de Columbia e uma das autoras do estudo.

 

"Parece que funciona –não em todo mundo, mas na maioria", afirma ela. "Precisamos de mais dados sobre riscos a longo prazo em pessoas saudáveis. Mas é bem animador em termos de crescimento de cabelo. A rapidez e a forma impressionante como o cabelo cresceu foram surpreendentes."

 

Luis Garza, dermatologista no hospital da Universidade Johns Hopkins e que não está envolvido na pesquisa, diz que os resultados eram encorajadores o suficiente para pensar em prescrever o ruxolitinibe para pacientes que não conseguem ser tratados de outra forma e que entendam os possíveis efeitos colaterais.

 

Injeções de corticoide muitas vezes funcionam para pessoas com regiões isoladas de calvície, mas precisam ser feitas em intervalos regulares e são dolorosas. Para pacientes com calvície severa, é impossível injetar o couro cabelo inteiro, diz ele.

 

Mas George Cotsarelis, dermatologista na Universidade da Pennsylvania, pediu cautela até que mais pesquisas sejam feitas. Segundo ele, faz sentido que remédios que suprimem o sistema de defesa funcionem para um problema causado por uma reação imune excessiva.

 

Porém, disse ele, como pacientes no estudo receberam pílulas duas vezes por dia que levavam o ruxolitinibe para todo o corpo, em vez de usar um creme de uso tópico, eles estão sendo tratados de forma sistêmica com uma droga muito tóxica que pode causar problemas no fígado, no sangue, infecções e outras doenças. Apesar de os pacientes no estudo terem sofrido poucos efeitos colaterais, a pesquisa é pequena e não compara o remédio a outros tratamentos.

 

Se o ruxolitinibe pudesse ser aplicado na pele, afirma Cotsarelis, seria um resultado incrível. Até lá, afirma, os pacientes vão pedir esse tratamento "e eu não daria". Raphael Clynes, que dividiu a liderança da pesquisa, afirma que a equipe testou creme e pílulas em roedores, e há planos de testar um creme em pessoas. Até lá, ele considera o remédio uma terapia cara que provavelmente é eficaz para um número pequeno de pacientes e deve ser razoavelmente segura. "Mas não posso endossar o uso até que façamos um teste maior."

 

A equipe planeja testar outra droga semelhante, a tofacitinibe, aprovada para artrite reumatoide e que funcionou em roedores. Em junho, Brett King, dermatologista em Yale, relatou que o remédio causou crescimento de cabelo e nenhum efeito colateral em um homem com alopecia universalis, uma forma de calvície que causa a queda de quase todos os pelos do corpo.

 

A ideia de usar esse tipo de droga veio de uma análise de genoma feita por Angela Christiano, que descobriu que, na alopecia areata, os folículos de cabelo emitem um sinal que atrai células de defesa para atacá-los. Ela achou similaridades genéticas nas células envolvidas com outras doenças autoimunes, como artrite reumatoide.

 

Apesar de ter o problema, Christiano não tomou o remédio ainda, porque sua alopecia tem estado dormente. "Eu tenho uma sobrancelha que vai e vem", diz ela. Para Brian, cinco meses da droga lhe deram uma cabeça cheia de cabelos. Por razões desconhecidas, o cabelo novo é branco em vez de preto, sua cor original.

 

Segundo ele, é mais fácil lidar com isso do que aguentar os olhares sobre os pedaços carecas que ele tinha na cabeça. Ele teve efeitos colaterais, como uma leve anemia. Desde que parou de tomar o remédio há seis semanas, ele teve uma leve perda de cabelo. "Acho que vou acabar perdendo o cabelo de novo." Se ele pudesse pagar o remédio, que custa US$ 9.000 por mês, e achasse um médico que o receitasse, ele tomaria. "Tenho certeza que deve haver questões médicas sérias a serem consideradas. Mas funciona, certo? E nada mais funciona, não como isso."