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Um anestésico pode reverter a depressão?

19/06/2018

Uma mesma substância, disponível em hospitais e clínicas veterinárias, e também ilicitamente nas ruas, é capaz de causar analgesia, anestesia, prazer, delírios... ou aliviar, em menos de uma hora e por mais de uma semana, um episódio de depressão grave, daqueles em que a pessoa não consegue gerar motivação para se mover, muito menos sair da cama. 

 

A substância é a cetamina, e o que exatamente acontece quando se recebe a droga depende da dose aplicada e do estado atual do usuário. A parte curiosa, à primeira vista, é que todos os efeitos envolvem a mesma ação farmacológica: o bloqueio de uma molécula na superfície dos neurônios, fundamental para sua ativação. 

 

Como o efeito imediato da cetamina é uma queda na ativação dos neurônios, a redução da dor e a eventual perda da consciência são consequências inevitáveis se a dose for alta. Mas alguns dos neurônios afetados pela cetamina atuam sobre outro tipo de neurônio, estes inibidores, que agem como freios no cérebro. 

 

Se esses neurônios inibidores estiverem hiperativos, como na depressão, pequenas doses de cetamina, ainda não suficientes para causar perda de memória ou anestesia, já podem ser suficientes para impedir esses freios e facilitar a ação (assim como multiplicar dois números negativos dá um resultado positivo). 

 

Em um elegante estudo recente, cientistas na China mostraram que a cetamina age contra a depressão profunda como um freio do freio do sistema de prazer e recompensa do cérebro. O freio é a habênula, região do cérebro que livros de neuroanatomia sequer mencionam, mas onde surtos de atividade provocam apatia. A cetamina, ao interromper esses surtos, restaura o prazer e a motivação.

 

A mesma droga que no corpo de uma moça saudável facilita o estupro pode tirar uma pessoa doente da cama. É um belo exemplo de como nossa biologia é simples e complicada ao mesmo tempo --e não há respostas fáceis aos problemas da vida.


Suzana Herculano-Houzel - É bióloga formada pela UFRJ e neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha.


Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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