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Pós-graduação de medicina do SUS quer usar cadáver congelado

04/04/2018

Aulas de medicina com holografia, estudos anatômicos com cadáveres congelados importados dos Estados Unidos e frequência do aluno monitorada por biometria e georreferenciamento. São algumas das propostas de um novo programa de pós-graduação no SUS (PGSUS) com foco em medicina de família e comunidade e urgência e emergência, lançado em Penedo, município alagoano com 70 mil habitantes.

 

O projeto é o primeiro em medicina ancorado na lei 13.243/16, também conhecida como o Novo Marco Legal da Inovação, aprovada em 2016 e regulamentada por meio de decreto presidencial em fevereiro último. Entre outros, ele dispensa a obrigatoriedade de licitação para projetos que envolvam inovação e tecnologia e simplifica convênios entre empresas públicas e privadas.

 

“O Brasil era muito atrasado nas questões de inovação. Como você vai inovar se tudo tinha que passar por licitação e a única coisa que importava era o menor preço e não a qualidade do resultado?”, diz Alcir Abuchaim, presidente da empresa Even Education and Technology, responsável pela plataforma do PGSUS. Se por um lado, a nova lei desburocratiza processos, por outro gera polêmica. No caso do PGSUS, os médicos serão contratados para estudar e trabalhar em unidades de saúde como bolsistas —sem vínculo empregatício.

 

Para Gustavo Gusso, professor de clínica geral da USP, os médicos chegam despreparados para atuar na atenção primária e, por isso, a pós-graduação é bem-vinda. Ele lembra, porém, que é preciso saber o que acontecerá com os profissionais após a formação e se o projeto terá continuidade nas próximas gestões.

 

“É uma forma que os municípios estão encontrando para fraudar o contrato de trabalho, de se livrar dos encargos trabalhistas, de precarizar da mão de obra médica e de privatizar as unidades de saúde”, diz Jorge Darze, presidente da Fenam (Federação Nacional dos Médicos). Segundo ele, experiências anteriores com médicos bolsistas mostram que, embora os programas se apoiem na figura de um preceptor que dará o assessoramento técnico ao aluno, na vida real, isso acaba não acontecendo. “Não há cargos destinados aos preceptores. Já vi médico sendo preceptor em um hospital e bolsista em outra unidade. Isso não é uma assistência de qualidade”, afirma.

 

PARCERIAS

 

O PGSUS envolve também a Unirio (Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro), o Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas, a MARC (Miami Anatomical Research Institute), além da Prefeitura de Penedo. Em Penedo, as aulas começam no próximo dia 16. São 13 bolsas, de R$ 7.500 (urgência e emergência) e R$ 11 mil (medicina de família). O curso dura três anos. As aulas práticas vão acontecer nas unidades de saúde, com atendimentos reais de pacientes sob supervisão de um médico preceptor.

 

O uso de cadáveres congelados nas aulas de anatomia deve ser uma novidade. Eles serão trazidos dos EUA pelo instituto Marc, parceiro do projeto e considerado o maior centro de treinamento do mundo nessa área. No Brasil, por força de lei, os corpos usados em pesquisa devem ser conservados em formol ou glicerina.

 

A vantagem do cadáver congelado, segundo Ribeiro, é que o método preserva as estruturas anatômicas. Na dissecação, é possível observar os vasos sanguíneos e por onde passam os nervos. Já com o formol não há preservação da cor e das estruturas. A importação de cadáveres ainda precisará do aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Pelas regras americanas, depois de usado em pesquisa, o corpo precisa ser cremado e as cinzas, dadas à família.

 

Cada médico também receberá um tablet por meio do qual assistirá a aulas. Nelas serão usados recursos tecnológicos como a holografia. “Trazer professores de longe, de Miami, por exemplo, envolve custos e disponibilidade de agenda. Com a holografia é como se a pessoa estivesse presencialmente”, diz Ricardo Ribeiro, presidente do Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas.

 

Os médicos bolsistas serão monitorados por biometria, reconhecimento fácil e radiofrequência para evitar fraudes, como médicos que faltam ao trabalho e outra pessoa marca sua presença. Para Daniel Soranz, ex-secretário municipal de saúde do Rio que coordenará a área de medicina de família do PGSUS, o maior desafio será manter um grupo de alunos de qualidade na medicina de família. “Ainda há pouco interesse de trabalhar na área. É importante que as escolas médicas reforcem o tema na graduação e as prefeituras ofereçam condições para fixar esses profissionais.” 

 

Estudo da USP em parceria com o CFM (Conselho Federal de Medicina) mostra que 20% das vagas de residência médica ociosas no país são de medicina de família.



CADÁVERES CONGELADOS


Como funciona o uso de corpos em pesquisa


Como é no Brasil


As escolas de anatomia usam cadáveres de morte natural e não reclamados (sem documento ou informação de parentes). Os corpos são mantidos em formol. A prática de doação é permitida, mas incomum


Como é nos EUA


No país, a cultura de doar o corpo para escolas de medicina é grande. As partes dos cadáveres são mantidas congeladas e não em formol. Após o uso, o corpo é cremado, e as cinzas são entregues à família


FORMOL


Armazenamento
> Em tanques, que ficam na temperatura ambiente

Vantagens
> Corpos duram anos; risco de contaminação é mínimo

Desvantagens
> A conservação da cor e textura dos tecidos não é fiel ao tecido vivo
> O formol é tóxico e pode causar irritação nas vias respiratórias de quem o manipula

CONGELADOS


Armazenamento
> Refrigeradores

Vantagens
> Esse método preserva as características dos tecidos, como cor e textura

Desvantagens

> Após algumas horas do descongelamento, o cadáver começa a se decompor

​> Maior risco de contaminação; por causa disso, é preciso mais cuidado e equipamento de proteção ao manipulá-los



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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