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Número de cegos pode saltar de 36 milhões para 115 milhões em 2050

14/09/2017

Os oftalmologistas estão preocupados com o aumento no número de pessoas cegas no mundo. Segundo estimativas de um estudo publicado na revista “Lancet”, o total de afetados deve saltar de 36 milhões para 115 milhões em 2050. As pessoas com visão comprometida podem passar dos atuais  217 milhões para 588 milhões. O tema foi discutido no 61º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que aconteceu na última semana, em Fortaleza.

 

Hoje existem cerca de 1,2 milhão de cegos no Brasil e o prognóstico não é muito bom para o país por causa do grande número de acidentes e da dificuldade de acesso à saúde, diz o oftalmologista Paulo Augusto de Arruda Mel, que já foi presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e que conversou com o Cadê a Cura? por e-mail.

 

Grande parte dos casos de cegueira é reversível –é o caso das pessoas com catarata e que ainda não passaram por cirurgia.  Mas outros problemas oftalmológicos, como retinopatia diabética, glaucoma e degeneração macular, podem ser mais graves e se não forem tratados a tempo levam à perda irreversível da visão. Apesar da falta de estatísticas confiáveis na área, a certeza dos médicos é que o assunto deve continuar sendo discutido.

 

Quais são os principais fatores que vão levar a tamanho aumento na quantidade de pessoas cegas nos próximos anos, de 36 milhões para 115 milhões em três décadas?

 

Paulo Augusto de Arruda Mel – O primeiro deles é o envelhecimento da população [passaremos dos atuais 7,5 bilhões para quase 10 bilhões de pessoas em 2050]. Nós assistimos hoje uma série de doenças que eram raras, tinham pequena prevalência e hoje são muito mais frequentes. Isso faz com que até os gestores de saúde tenham que mudar seu foco, agora precisam deixar mais verbas para patologias que antes eram precisavam de pouca atenção. Outros aspectos que também preocupam muito são o número de acidentes e a dificuldade de acesso à saúde.

 

Quais são os principais fatores ou doenças que levam à cegueira no Brasil e no mundo? Há alguma discrepância?

 

Somos um país em desenvolvimento, então não podemos comparar o que acontece aqui com os países já desenvolvidos, mas  sabemos que os países em desenvolvimento têm um maior índice de cegueira por número de habitantes. Existem dois tipos de cegueira, a irreversível e a  reversível. Dentro desse segundo tipo temos a catarata, que afeta muitas pessoas pessoas. Felizmente nós ainda encontramos, em algumas regiões, um grande número de cegos que podem ser recuperados, voltando a realizar todas as atividades.

 

Nós ainda temos as cegueiras irreversíveis, que são as mais frequentes, como o glaucoma e as doenças da retina, como a retinopatia diabética, que preocupa muito. E também temos as doenças maculares relacionada à idade. A grande preocupação é que, com esse aumento da idade média da população, tenhamos uma ocorrência maior dessas doenças. 

 

 

Projeção da evolução dos afetados por cegueira (azul) e por problemas de visão de moderados a graves (vermelho) (“Lancet”)

 

O que é possível fazer, além de ir mais frequentemente ao oftalmologista, para evitar essas perdas?

 

Um compromisso muito importante é trabalhar com a população de risco. Nós sabemos que as pessoas acima de 40 anos têm maior possibilidade de desenvolver glaucoma; as pessoas diabéticas, de desenvolver doenças de retina. É importante alertar a população que apresenta fatores de risco. Por exemplo, numa família em que um membro é portador de glaucoma, a probabilidade de ter outro portador da mesma doença é muito maior do que numa família que não possui nenhum glaucomatoso. Então o portador deve ser orientado para que, numa reunião social de família, comunique a todos sobre a existência da doença.

 

É possível evitar a cegueira pelo glaucoma, que, se tratado precocemente, com o paciente tendo uma boa fidelidade ao tratamento, apresenta possibilidade de ter visão pela vida toda. Além disso, também devemos educar outros profissionais de saúde e outros médicos não oftalmologistas para que possamos prevenir a cegueira no país.

 

A população está ficando mais negligente com o cuidado com a visão?

 

Não acredito que seja o caso. Eu sugiro que os leitores perguntem sempre, em qualquer  procedimento sugerido, a quais riscos estão se sujeitando. Hoje a população está mais consciente do que no passado, mas ainda pode melhorar.

 

As complicações de cirurgias refrativas ou de catarata estão relacionadas ao aumento da perda de visão?

 

Não, as complicações das cirurgias de catarata e de cirurgias refrativas não estão no rol da causa do aumento da cegueira. Ambos os procedimentos apresentam bons resultados hoje em dia.

 

Existem outros entraves no combate à perda de visão? Como superá-los?

 

O Brasil é um país continental, em algumas regiões há dificuldade no acesso à saúde, e existem poucas políticas governamentais a respeito.  Estamos vivendo em uma economia de guerra, cada centavo é crucial e a área da saúde também é alvo dos cortes. Os vários projetos governamentais devem passar por um estudo de farmacoeconomia –uma análise de como conseguir um resultado eficaz usando poucos recursos.

Se até quando nós [do CBO] abraçamos um projeto, como doações de colírios a portadores de glaucoma, por exemplo, nos baseamos em estudos de farmacoeconomia, é importante que os órgãos governamentais façam o mesmo e participem na luta contra a cegueira de maneira econômica e efetiva.


O que o senhor pensa sobre teleoftalmologia ou oftalmologia a distância?

 

Telessaúde é um assunto importantíssimo que nos apaixona sobremaneira. Temos, além da transmissão de conhecimento a distância, a telemedicina, que é a possibilidade de diagnóstico e tratamento do paciente a milhares de quilômetros do médico.

 

Toda tecnologia exige ainda uma aproximação com o paciente. Nós sabemos que 75% dos diagnósticos podem ser feitos por uma história clínica detalhada e que 85% dos diagnósticos podem ser feitos com a adição de um exame a essa história –e esses são exames fundamentais.

 

Existe a possibilidade de nós trazermos um atendimento mais econômico à população. Vamos supor, por exemplo, uma cidade a dois dias de barco de Manaus. Se levarmos um retinógrafo e uma pessoa competente para operar esse aparelho e que ela envie uma imagem para um grande centro de oftalmologia, esse centro pode dizer quais são os habitantes daquela cidade que precisam ser transportados a Manaus para fazer um procedimento a laser para preservar a visão.

 

É fundamental, porém, que isso seja feito isso de forma apropriada, de forma a garantir a resolução dos casos, pois de nada adianta ter um diagnóstico se o paciente não pode ser submetido ao tratamento. É necessário ter médicos no começo e no fim da ação.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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