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Proteína do leite pode proteger células contra infecção por zika e chikungunya

21/09/2016

Uma proteína do leite já conhecida por proteger o organismo humano contra micróbios também pode ser um escudo contra os vírus zika e chikungunya, afirmam pesquisadores brasileiros. Por enquanto, os testes foram realizados in vitro, mas os dados abrem caminho para a busca de novas estratégias terapêuticas contra ambos os parasitas –no momento, só é possível combater a transmissão ou minimizar os sintomas causados por eles.

 

"É importante mostrar que, ao menos em princípio, uma única abordagem poderia ter efeito sobre ambos os vírus", diz Carlos Alberto Marques de Carvalho, que faz pós-doutorado na Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas (PA) e é o primeiro autor do novo estudo. Também assinam a pesquisa cientistas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

 

Carvalho e seus colegas testaram a atividade antiviral da lactoferrina bovina, proteína obtida, como o nome sugere, a partir do leite de vaca. Formas dela também estão presentes no leite produzido por outros mamíferos, inclusive pelo ser humano.


 

A lactoferrina tem presença acentuada no colostro, o "pré-leite" que os recém-nascidos mamam logo após o parto e que possui uma série de outras substâncias importantes para fortalecer as defesas do organismo dos bebês, como anticorpos. Há algumas evidências de que a lactoferrina também desempenha esse papel durante o aleitamento, embora esteja presente ainda em secreções como a saliva e as lágrimas.

 

CÉLULAS DE MACACO

 

O teste das capacidades protetoras da lactoferrina foi feito com a ajuda das chamadas células Vero, cultivadas em laboratório e obtidas originalmente a partir dos rins do macaco-verde-africano (chlorocebus). São células muito usadas para cultivar vírus de todo o tipo, o que explica a preferência por elas nesses experimentos iniciais.

 

Os cientistas colocaram as células Vero em contato com diferentes concentrações da proteína e com ambos os vírus. Variaram também o momento dos procedimentos (ao banhar as células com a proteína antes, durante ou depois do contato com o zika e o chikungunya). Ficou claro que a lactoferrina tem um efeito de inibição dos vírus que é dose-dependente (ou seja, quanto maior a concentração da molécula, maior a inibição). A proteína chegou a impedir a infecção em até 80% das células, sem aparentes efeitos tóxicos.

 

De maneira geral, o efeito inibitório foi mais forte quando as células foram banhadas com a proteína antes e durante o contato com os vírus. Isso provavelmente indica que o principal papel antiviral da lactoferrina é impedir que os vírus invadam as células, mas ela também parece estar atrapalhando, em menor grau, a capacidade de multiplicação dos parasitas dentro das células.

 

"Para você ter um efeito antiviral, não necessariamente é um problema essa atividade maior se a proteína já estiver presente perto das células", diz Carvalho. "Mesmo que algumas células já tenham sido invadidas, o vírus vai sair delas e tentar invadir outras, e nesse ponto a presença da proteína poderia ser útil."

 

O pesquisador explica que simplesmente sair tomando leite para tentar evitar a infecção por zika ou chikungunya não seria uma estratégia razoável para seres humanos adultos, porque a lactoferrina é "quebrada" pelo sistema digestivo. No entanto, compreender melhor como a inibição in vitro ocorre abre caminhos para adaptar a abordagem de maneiras que possam ser usadas e funcionem em pacientes humanos. "Você poderia pensar em uma administração intravenosa, por exemplo", pondera Carvalho.

 

Por outro lado, pedaços menores da molécula, que não fossem tão atacados pelo sistema digestivo ao serem ingeridos, talvez sejam úteis –antes de mais nada, será preciso saber qual porção da molécula é responsável por impedir a entrada do vírus, provavelmente por estar se ligando a áreas específicas da superfície das células.

 

A pesquisa foi submetida para publicação no periódico científico "PLoS ONE", mas já pode ser lida no site "bioRxchiv" (biorxchiv.org), um depositário on-line de estudos da área de biologia. Desde que a dimensão e os riscos da epidemia de zika ficaram claros, a comunidade científica tem adotado como praxe a publicação rápida e o acesso gratuito às pesquisas sobre o vírus, de forma que possíveis armas contra a doença fiquem disponíveis para o público.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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