São Paulo, 19 de abril de 2024
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Hospital oftalmológico montado dentro de avião visita países pobres

Ao subir as escadinhas do avião, nada de comissários dando as boas vindas. No espaço reservado à primeira classe, há uma sala de aula em que grupo de jovens médicos assiste a uma cirurgia nos olhos em tempo real. Poucos passos à frente, um senhor com catarata avançada passa pela última avaliação médica. Ao seu lado, duas estudantes treinam a cirurgia em um simulador.

 

Mais adiante, numa sala asséptica escura, com médicos e enfermeiros paramentados, o menino Rodrigo, 4, é operado de estrabismo. "Fiquei assustada no começo quando soube que a cirurgia seria em um avião, mas só foi pisar aqui que me convenci que não poderia existir lugar melhor para o meu filho estar", conta Giovana Rodrigues, mãe de Rodrigo.

 

Trata-se de um avião modelo DC-10, doado pela FedEx, totalmente adaptado para se transformar em um hospital oftalmológico. Neste ano, já esteve em El Salvador, na Colômbia, no Panamá e, por último, no Peru. A iniciativa é da Orbis, uma ONG internacional integrada por uma equipe de 22 pessoas, entre médicos, enfermeiras, pilotos, mecânicos e especialistas em logística, a maioria voluntários.

 

A FedEx e a Omega Watches estão entre as empresas patrocinadoras. Segundo Jean-Pascal Perret, vice-presidente de comunicação da Omega Watches, neste ano foram investidos US$ 2 milhões no projeto. A reportagem acompanhou a missão médica em Trujillo, norte do Peru, onde o avião esteve pousado nas duas primeiras semanas de setembro. No período, 85 cirurgias foram feitas e 172 profissionais de saúde, treinados.

 

Segundo Joan McLeod-Omawale, diretora regional da Orbis para a América Latina e Caribe, a ideia é atender na aeronave casos mais complexos, que não são atendidos ou têm muita fila de espera nos serviços de saúde. Das cirurgias feitas, 12 foram transplantes de córneas. "Há muitos casos de catarata, glaucoma e inflamações. São situações em que cegueira é curável", afirma Joan McLeod-Omawale, diretora regional da Orbis para a América Latina e Caribe.

 

No mundo, há 45 milhões de pessoas cegas, 80% delas poderiam recuperar a visão se recebesse tratamento médico adequado, segundo Joan. A maioria (90%) vive em países em desenvolvimento, como o Brasil, que tem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 582 mil cegas, segundo dados do IBGE.

 

TREINAMENTO - Outro objetivo da missão médica é treinar profissionais locais para que eles possam desenvolver as mesmas técnicas oftalmológicas no futuro. O avião possui uma sala de aula com 48 lugares. "O avião chega e vai. É só uma parte. O principal propósito é multiplicar o conhecimento", afirma. No Peru, a Orbis é parceira do Instituto Regional de Oftalmologia.

 

Segundo o diretor-executivo do instituto, Jaime Pereira, o grande foco agora é o treinamento para diagnóstico e tratamento de doenças oftalmológicas em crianças. "Elas são curáveis em 50% dos casos. Você muda o curso da vida de uma criança com intervenções muito simples, na maioria das vezes." Uma das doenças que preocupa a equipe é a retinopatia da prematuridade, que aumentado em razão da alta incidência de bebês nascidos antes de 36 semanas.

 

A doença leva ao crescimento desorganizado dos vasos sanguíneos que suprem a retina. Esses vasos podem sangrar e, em alguns casos, a retina pode descolar e fazer a criança perder a visão.

 

Desde 1982, a Orbis já realizou programas em 92 países (veja mapa acima). Mais de 23 milhões de tratamentos ópticos foram realizados, com 250 mil profissionais treinados. O avião-hospital nunca pousou no Brasil. Segundo Joan McLeod-Omawale, diretorda da ONG, por falta de convite. "Só vamos aonde somos convidados."