São Paulo, 23 de abril de 2024
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Saiba como a vacina contra o HPV age e as reações que pode provocar

A vacina contra HPV, que passou a ser oferecida este ano pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 11 a 13 anos, é segura para as adolescentes. Segundo pesquisas feitas em países que adotam a imunização há mais tempo e especialistas ouvidos, os riscos de ocorrerem eventos adversos são parecidos com os de outras vacinas que já fazem parte do calendário vacinal.

 

O caso de 11 garotas de Bertioga que foram levadas ao hospital depois de receberem a segunda dose da vacina contra HPV na escola, na quarta-feira passada (4), suscitou preocupações em relação à segurança da vacina entre os pais de adolescentes.

 

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirmou que as meninas já estão bem e descartou qualquer relação entre os sintomas e a vacina aplicada. As jovens relataram dores no corpo, na cabeça e tremores. Três delas afirmaram que não sentiam as pernas e que tinham dificuldades para andar. Elas permanecem em observação, mas já se sentem melhor e não apresentam mais os sintomas.

 

"Para a vacina ser registrada e liberada no país, o produtor tem que demonstrar com estudos padronizados que ela é segura e eficaz. Mesmo quando ela já está em uso, todos os efeitos potencialmente relacionados à vacina são avaliados e registrados", diz o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Veja algumas perguntas e respostas sobre a segurança da vacina contra HPV:

 

O que pode acontecer com quem toma a vacina?

 

De acordo com o médico Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), os eventos adversos mais comuns relacionados à vacina de HPV são dor, inchaço e vermelhidão no local da aplicação.  Febre, mal estar e dor de cabeça também são reações relatadas por parte dos vacinados. Podem ocorrer ainda desmaios nos primeiros 15 minutos após a vacinação. Segundo os especialistas, essas reações são benignas, sem gravidade e não deixam sequelas.

 

Nos Estados Unidos, que desde 2006 já distribuiu cerca de 67 milhões de doses da vacina quadrivalente contra HPV, um estudo de segurança divulgado em agosto apontou que a proporção de eventos adversos entre os que receberam a vacina e entre o grupo controle, que recebeu apenas uma solução salina, foi similar.

 

Por que alguns adolescentes desmaiam?

 

Kfouri esclarece que os desmaios não são reações específicas à vacina de HPV e que estão relacionados a fatores emocionais. “Trata-se de uma população de adolescentes e parte deles desmaiaria ao tomar qualquer outra vacina ou medicação injetável.” Por causa da possibilidade de desmaios, é recomendado que os jovens sejam vacinados sentados e que permaneçam em observação por 15 minutos.

 

O secretário Jarbas Barbosa cita que, quando a vacinação contra HPV foi lançada nos Estados Unidos, foi observado um fenômeno de desmaios em série. “Quando se vacinava em uma escola, se tinha um desmaio, aconteciam 5 ou 6 desmaios na mesma escola. Em outras, não ocorria nenhum desmaio”, diz Barbosa. Ele cita que ver um colega desmaiando deixa os colegas tensos e ansiosos e mais propensos à ocorrência.

 

Ela pode provocar dormência e paralisia nos membros?

 

A vacina não está relacionada a sintomas como dormência e paralisia dos membros, relatados pelo grupo de jovens de Bertioga. De acordo com a médica Marta Heloísa Lopes, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), trata-se de uma vacina desenvolvida por engenharia genética, que tem apenas a superfície do vírus HPV. “Mesmo se tivesse o vírus inteiro, ele não seria capaz de provocar problemas no sistema nervoso central”, diz a médica.

 

De acordo com Barbosa, na medida em que exames revelaram que não havia nenhum déficit motor ou neurológico nas jovens de Bertioga, o mais provável é que os sintomas relatados por elas tenham causas emocionais. “O adolescente tem uma labilidade emocional maior, são mais sugestionáveis e reagem com mais intensidade”, disse o secretário. “Realmente foi uma reação mais emocional, psicossomática, o que não é incomum. Mesmo em adultos isso pode acontecer.”

 

O fato de os sintomas terem aparecido em pessoas da mesma escola também é um sinal de que o problema não é especificamente da vacina, já que o mesmo lote do produto foi distribuído em várias outras regiões do país em que não houve relatos de problemas semelhantes. “Quando ocorre um caso em um lugar e outro em um outro lugar distante, a gente deve ficar mais atento. É estranho que eventos raros aconteçam em um lugar só”, diz Marta.

 

Para que serve a vacina?

 

Kfouri explica que a vacina distribuída no SUS é quadrivalente, ou seja, protege contra quatro tipos de HPV: o 6, o 11, o 16 e o 18. Dois deles (o 6 e o 11), estão relacionados com o aparecimento de 90% das verrugas genitais. Os outros dois (o 16 e o 18) estão relacionados com 70% dos casos de câncer de colo de útero.

 

“O uso da vacina de HPV em saúde pública é recomendado porque o câncer de colo de útero é uma causa importante de morte entre as mulheres”, diz Barbosa. Além da vacina, a prevenção contra esse tipo de câncer também continua envolvendo o exame Papanicolau, que identifica possíveis lesões precursoras do câncer que, tratadas precocemente, evitam o desenvolvimento da doença.

 

“Existe uma expectativa muito grande de que a combinação de vacinação do HPV com o teste preventivo, o Papanicolau a partir dos 25 anos, permita que a geração que hoje tem de 11 a 13 anos seja a primeira geração em que o câncer de colo de útero seja eliminado como causa de morte entre as mulheres", observa Barbosa.