São Paulo, 20 de abril de 2024
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Novos testes tentam fazer diagnóstico de câncer de forma não invasiva

Para pessoas com câncer ou suspeita de câncer, a biópsia é um mal necessário - um procedimento incômodo e um tanto arriscado para extrair tecido para diagnóstico ou análise. Mas alguns pacientes tiveram a doença analisada com simples exames de sangue conhecidos como "biópsias líquidas".

 

Com frequência há no sangue traços reveladores da presença de um tumor. Células cancerosas intactas ou fragmentos de DNA tumoral estão presentes em quantidades minúsculas. Várias empresas levam ao mercado exames sofisticados capazes de detectar e analisá-los.

 

A utilidade dos exames ainda precisa ser comprovada, mas seus defensores dizem que, como as biópsias líquidas não são invasivas, podem ser repetidas, potencialmente monitorando o avanço da doença e permitindo ajustar o tratamento. "A possibilidade de fazer exames de modo serial é uma vantagem enorme", comentou a oncologista Pamela Munster, da Universidade da Califórnia em San Francisco. "Não podemos fazer biópsias seriais do fígado de um paciente."

 

Uma utilização das biópsias líquidas poderia ser como alerta antecipado da presença de câncer. Um estudo publicado no "New England Journal of Medicine" mostrou que, em alguns casos, uma biópsia líquida é capaz de detectar o agravamento de um câncer de mama cinco meses antes de o tumor aparecer em tomografias. Com isso, uma terapia ineficaz poderia ser suspensa antes. O maior impacto virá se os exames de sangue puderem detectar câncer em pessoas aparentemente saudáveis, numa fase em que o câncer ainda é curável.

 

Mas, apesar de todo o potencial das biópsias líquidas, os criadores desses exames ainda não determinaram cabalmente sua precisão ou utilidade. Fazer os exames ajuda aos pacientes? Lynn Lewis, do Brooklyn, enfrenta um câncer de mama metastático há sete anos. Em junho, ela fez um exame para detectar fragmentos de DNA tumoroso em seu sangue. Desenvolvido pela Guardant Health, o exame encontrou uma mutação genética que sugeriu que sua doença seria suscetível ao medicamento Afinitor.

 

Lewis, 54, tinha usado o Afinitor antes, e o remédio tinha parado de funcionar. Um segundo exame que detectou mais mutações não apontou para uma escolha clara de tratamentos. Mas uma biópsia líquida mostrou que as células cancerosas continham quantidades abundantes da proteína HER2, que alimenta o crescimento de tumores. Isso não foi visto em biópsias dos tecidos de Lewis. Graças a isso, ela começou um tratamento com Herceptin e Tykerb, dois medicamentos para combater seus cânceres HER2-positivos.

 

"Às vezes é possível identificar um tratamento, às vezes não", disse Massimo Cristofanilli, do centro de tratamento de câncer de mama da Universidade Thomas Jefferson, em Filadélfia, que cuida do caso de Lewis. "Mesmo assim, é um progressoem relação a avançar às cegas." 

 

A falta de provas da sua utilidade impediu a aceitação do CellSearch, o primeiro exame a detectar e contar células tumorosas circulando no sangue, aprovado pela FDA, que regula o setor de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, em 2004. Estudos mostram que um número grande de células tumorosas no sangue é preocupante, aumentando a probabilidade de que o câncer se agrave. Mas nem sempre fica claro o que fazer com esse dado.

 

"Dizer a um paciente que há grandes chances de o câncer voltar, mas que não sabemos o que fazer, não é muito útil", explicou Scott Kopetz, professor associado no Centro de Câncer M.D. Anderson, em Houston. Um estudo, por exemplo, constatou que, no caso de pacientes com câncer de mama e alto índice de células tumorosas circulando - sinal de que a terapia que estavam seguindo não funcionava -, a troca de terapias não prolongou a sobrevida.

 

Robert McCormack, diretor de tecnologia, inovação e estratégia da Janssen Diagnostics, que produz o CellSearch, disse que até suspender um tratamento ineficaz, com isso evitando efeitos colaterais, pode ser útil. Alguns exames mais novos, incluindo um que Janssen está desenvolvendo, vão não apenas contar as células, mas analisá-las. A Cynvenio Biosystems diz que seu exame é capaz de sequenciar 50 genes nas células tumorosas circulantes.

 

Alguns especialistas dizem que o interesse está se deslocando para a abordagem mais nova de procurar fragmentos de DNA que não estão nas células que penetram no sangue quando as células cancerosas morrem. A Trovagene está procurando fragmentos de DNA tumoral na urina, em vez do sangue. E a equipe da Qiagen e Exosome Diagnostics procura informações sobre tumores em exossomos, glóbulos de material que as células liberam no sangue.

 

Muitos centros de oncologia fazem análises genéticas de tumores usando biópsias convencionais, buscando mutações que possam ser tratadas com remédios específicos. A Foundation Medicine oferece um exame que analisa mais de 200 genes a partir da biópsia tradicional. Realizar análises como essas com uma amostra de sangue apresenta mais dificuldades técnicas. O DNA tumoroso pode representar apenas um milésimo do material genético que flutua no sangue, sendo que o restante vem de células saudáveis.

 

Há milhões ou mesmo bilhões de células sanguíneas normais para cada célula tumorosa circulante. Nitin Sood, executivo-chefe da Boreal Genomics, comentou: "É como olhar para o Sol e tentar ver as estrelas".